Durante décadas tem havido grande discussão, por parte de especialistas, no tocante à associação Endometriose e fertilidade. Estudiosos debatem sobre até que ponto, proporcionalmente falando, a doença afeta a capacidade de fertilização da mulher.
A Endometriose está correlacionada à infertilidade em 50% dos casos – o que significa que 50% das mulheres que sofrem com infertilidade tem como causa principal a Endometriose e 50% das mulheres que sofrem de Endometriose são inférteis.
O fator primário de infertilidade se caracteriza pela deformação das tubas uterinas, devido ao processo inflamatório crônico, que gera a aderência do peritônio com outros órgãos da região pélvica. Tal aderência obstrui as tubas uterinas e, consequentemente, impede a mobilidade do óvulo e espermatozoide em direção ao ovário para fecundação.
Classificação da Endometriose
A endometriose é classificada em três tipos: superficial, moderada e profunda. O diferencial se baseia nos achados intraoperatórios – através da análise do número e localização das lesões (pós-cirúrgicas), além da realização de videolaparoscopia quando o médico poderá avaliar e classificar a doença.
Endometriose Superficial
Quando apresenta pequenas lesões, geralmente entre 1 a 3 mm, com cores e aspectos variáveis podendo ser de coloração negra, branca ou vermelha. A Endometriose superficial tem como característica principal o ataque ao peritônio – tecido que reveste a camada interna do abdome e se localiza, em sua maior parte, na região da pélvis, próxima ao útero.
A endometriose superficial é considerada uma forma menos agressiva pois não provoca alterações na anatomia dos órgãos pélvicos, porém ainda se faz necessário um acompanhamento constante, pois a doença pode evoluir para outro tipo.
Endometriose Moderada
A forma moderada da doença acontece quando os focos de tecido endometrial se fixam na região dos ovários desencadeando um processo inflamatório.
A hipótese mais aceita é a que afirma que a endometriose ovariana aconteça por conta do refluxo sanguinolento menstrual nas tubas uterinas – que ao acometer os ovários promove a formação de cistos ovarianos.
A endometriose ovariana pode alterar o processo da foliculogênese (maturação do folículo ovariano) e afetar diretamente a ovulação e a fertilidade feminina.
Endometriose Profunda
A Endometriose profunda se manifesta através de lesões de tecido endometriótico, que se infiltram na parede de um órgão, com mais de 5 mm de profundidade – inicialmente possuem entre 1 a 2 milímetros.
Tais lesões geralmente aparecem sob a forma de nódulos e são ricas em um tecido conjuntivo endurecido, denominado fibrose – semelhante a uma cicatriz.
A endometriose profunda pode atacar qualquer órgão da região pélvica, principalmente os ligamentos uterinos, os ureteres, a bexiga, a vagina, o reto e o intestino.
Tipos de Endometriose
Endometriose Ovariana
A lesão endometriótica ovariana é responsável por atingir os ovários e, é ocasionada, principalmente, pela formação de cistos com dimensões diversas, podendo atingir entre ½ a 10 cm de diâmetros – além de conteúdo sanguinolento cujas características se definem pela presença de liquido de coloração achocolatada denominado endometriomas ovarianos.
Tais cistos podem romper-se ou permitir vazamento e provocar dor abdominal súbita e intensa na mulher, mas nem sempre a endometriose ovariana apresenta sintomas. A causa da endometriose ovariana ainda não está definida.
Endometriose de Parede
A lesão endometriótica nas regiões extra pélvicas é relativamente rara e, geralmente acontece na parede abdominal, quando há uma associação com cicatrizes cirúrgicas – essencialmente em cicatrizes cesáreas.
Uma das hipóteses é que durante a intervenção cirúrgica as células endometrióticas se espalham através da incisão realizada no útero e se espalham, através do corte, indo se alojar no interior da própria incisão.
Os sintomas característicos compreendem a formação de cisto ou edema bastante sensível ao toque, na área cicatricial – com dores que se evidenciam em intervalos regulares de tempo.
É de suma importância que a averiguação das causas seja realizada durante o período menstrual – pois, quando não há uma correlação pode surgir dificuldades no diagnóstico e mascarar as verdadeiras causas.
A realização do diagnóstico pode ser feita através de tomografia e ultrassonografia computadorizadas – responsáveis pela averiguação do tamanho da lesão e do grau de comprometimento. A realização dessas informações é imprescindível para um melhor planejamento do tratamento cirúrgico e para remoção do tecido inflamado.
Endometriose Intestinal
Endometriose intestinal é o crescimento de tecido do endométrio às voltas da parede do intestino – que dificulta o seu funcionamento e altera os hábitos intestinais.
Geralmente a endometriose é tratada com cirurgia para que haja a remoção de tecido no intestino. Porém, em casos em que o tecido endometrial não se espalhou excessivamente e que não há qualquer sintoma o tratamento pode ser realizado através de medicações hormonais.
Dentre os principais sintomas da endometriose abdominal podemos citar a dor abdominal intensa, náuseas e vômitos, dificuldade para evacuar, diarreia constante, sangramento anal durante o período menstrual e melena (presença de sangue nas fezes).
Vale ressaltar que apesar da retirada cirúrgica do tecido endometrial não há garantia de cura definitiva. Portanto, é necessário que sejam realizados exames periodicamente para descartar a recidiva.
Endometriose Pulmonar
A forma pulmonar da Endometriose é rara e acontece quando o tecido endometrial se desenvolve na região dos pulmões.
O diagnóstico sintomatológico é realizado através de sangramento nas vias áreas durante o período menstrual, geralmente, mediante a tosse e é confirmado através de exames de imagem.
Infelizmente o diagnóstico da endometriose ainda é incerto por meio de exame físico ginecológico de rotina. Em contrapartida os exames de imagem são adequados para apontar a existência da doença que será confirmada mediante exames laboratoriais específicos.
Atualmente existem diversos tipos de tratamentos não agressivos, que podem diminuir significativamente o número de procedimentos a que a paciente será submetida. E, quanto mais cedo se submeter a uma intervenção curativa – mais chances a mulher terá para evitar possíveis complicações. Por falta de conhecimento sobre o seu corpo e sobre a endometriose, muitas mulheres acreditam ser ‘normal’ sentir cólicas menstruais intensas e não procuram ajuda médica.
Vale salientar que o diagnóstico é demorado e, em geral, o tempo médio entre os sintomas iniciais até o diagnóstico conclusivo pode chegar a 10 anos ou mais – logo, quanto mais cedo melhor!